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4 Lições Surpreendentes Sobre o HIV Que Vão Mudar Sua Perspectiva


4 Lições Surpreendentes Sobre o HIV Que Vão Mudar Sua Perspectiva

Muitos de nós, quando pensamos em HIV/aids, ainda temos na mente as imagens e os medos que marcaram as décadas de 1980 e 1990. No entanto, a realidade do HIV, especialmente no Brasil, evoluiu drasticamente. Impulsionada pela ciência, por políticas públicas inovadoras e por uma abordagem completamente nova na comunicação, a conversa sobre o vírus mudou. Este texto revela quatro das lições mais impactantes e contraintuitivas compartilhadas por João Geraldo Netto, especialista e ativista, de 43 anos, que vive com HIV há 24 anos e dedica sua vida à comunicação sobre o tema.


Lição 1: A Prevenção pelo Medo Fracassou. O Futuro é a Autonomia


As antigas campanhas de saúde pública, focadas em imagens "tenebrosas" para assustar a população, simplesmente não funcionaram. João Geraldo argumenta que a sexualidade é uma esfera íntima da vida, e o medo não é um motivador eficaz para o cuidado. A abordagem que tem mostrado resultados no mundo inteiro é completamente diferente: em vez de impor regras, o objetivo é orientar e dar poder de decisão às pessoas, oferecendo tranquilidade para que vivam sua sexualidade plenamente.


A mudança de paradigma é clara, como ele explica:


...mais do que eu dizer para ela "olha, cuidado com a aids que vai te pegar" como a gente já usou em campanha dizer para ela "olha só, a gente tem inúmeros métodos de prevenção que você pode combinar e isso aí vai te dar uma vida, uma qualidade sexual e uma autonomia muito maior".


Lição 2: A Prevenção Agora é um "Menu de Opções", Não Apenas a Camisinha


Embora a camisinha continue sendo um método excelente de prevenção contra o HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), ela deixou de ser a única opção de alta eficácia. Hoje, falamos em prevenção combinada. João Geraldo usa uma analogia perfeita: é como montar um combo em um fast-food, onde você escolhe os itens que funcionam melhor para você.


Nesse "menu", a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) se destaca. Trata-se de um comprimido que pode ser tomado diariamente ou "sob demanda" (próximo das relações sexuais), sendo o método mais consistente disponível hoje e oferecido gratuitamente pelo SUS. Há também a PEP (Profilaxia Pós-Exposição), para situações de emergência. Ter múltiplas opções é revolucionário porque a ciência reconhece que, embora excelente, o uso da camisinha "não é tão consistente quanto a gente percebe". Oferecer alternativas dá às pessoas liberdade e respeito, garantindo que possam se proteger de uma forma que realmente se encaixe em suas vidas.


Lição 3: O Preconceito Não Diminuiu; Apenas se Tornou Mais Aberto


Aqui está uma das ideias mais contraintuitivas: a sociedade não se tornou necessariamente mais tolerante com as pessoas que vivem com HIV. Segundo a perspectiva de João Geraldo, a intolerância que sempre existiu está apenas "mais aparente" e "menos velada".


Esse preconceito, especialmente a ideia perigosa de que "HIV é uma doença de gay", continua sendo uma barreira imensa. O seu efeito é profundo: ele não apenas fere, mas impede que a pessoa sequer consiga pensar que ela mesma pode ser vulnerável à infecção. Ao associar o vírus a um grupo específico, o estigma afasta pessoas do teste e da própria percepção do risco, tornando-as mais vulneráveis.


"O preconceito continua lá, ele tá acontecendo, ele continua sendo um problema que afasta as pessoas desde o teste, afasta a pessoa até mesmo de pensar que ela é vulnerável à aquela infecção."

Lição 4: A "Cura" Pode Não Ser o Que Você Imagina (e Isso é uma Boa Notícia)


A busca por uma cura definitiva para o HIV é extremamente complexa e, segundo especialistas como Françoise Barré-Sinoussi, codescobridora do vírus, provavelmente ainda vai demorar. No entanto, já estamos vivendo a era da "cura funcional".


João Geraldo define este conceito como a capacidade de viver com o HIV de forma tranquila e saudável. Isso significa não precisar tomar medicamentos diários (graças a tratamentos injetáveis de longa duração, que já existem nos EUA e estão chegando ao Brasil), não adoecer e, por estar com a carga viral indetectável, não transmitir o vírus. Essa "cura funcional" transforma o HIV em "uma condição crônica comum como qualquer outra doença crônica", removendo grande parte do peso diário que a doença um dia representou.


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Um Novo Olhar para o Futuro


Fica claro que a luta contra o HIV evoluiu. Saímos de uma batalha baseada no medo e na restrição para uma abordagem focada em autonomia, opções, ciência e qualidade de vida. As ferramentas para controlar o vírus e viver bem com ele já existem e são cada vez mais acessíveis. Isso nos deixa com uma reflexão final: se a ciência já nos deu as ferramentas para controlar o vírus, o que a nossa sociedade precisa fazer para finalmente derrotar o preconceito que ainda o acompanha?

 
 
 

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