Um estudo publicado no periódico Clinical Infectious Diseases avaliou a eficácia da terapia com base em dolutegravir como monoterapia em pessoas que iniciaram o tratamento logo após adquirirem o HIV. Os participantes que receberam apenas dolutegravir mantiveram estáveis suas características imunológicas e virológicas ao longo de quatro anos, sem falhas no tratamento. No entanto, existem ressalvas quanto à aplicabilidade dessa abordagem.
Estudos anteriores com monoterapia utilizando outros medicamentos contra o HIV não apresentaram resultados satisfatórios a longo prazo. O diferencial deste estudo foi o foco em pessoas que iniciaram o tratamento precocemente, durante a fase conhecida como infecção primária, caracterizada por um pool viral menos diverso, melhor recuperação imunológica e possível reservatório viral menor.
Embora a ideia de utilizar menos medicamentos possa reduzir custos e efeitos colaterais, a monoterapia com dolutegravir não é recomendada como uma opção padrão de tratamento para a maioria das pessoas com HIV. O risco mais significativo é o desenvolvimento de resistência aos inibidores de integrase, tornando toda a classe de medicamentos indisponível para o paciente. Além disso, identificar pessoas na fase inicial da infecção é desafiador e o estudo foi realizado com uma amostra pequena, o que pode limitar a replicação dos resultados.
Durante o estudo, as contagens de CD4 permaneceram altas e não houve diferenças significativas entre os grupos. A redução do reservatório viral também foi semelhante nos dois grupos ao longo dos quatro anos. Houve menos interrupções de tratamento devido a efeitos colaterais na monoterapia em comparação com a terapia padrão. As concentrações de dolutegravir no sangue e no líquido cefalorraquidiano permaneceram adequadas.
Embora esses resultados sejam encorajadores, eles ressaltam a importância de abordagens personalizadas no tratamento do HIV. Existem opções de terapia dupla baseadas em dolutegravir disponíveis que alcançam resultados ótimos com menos medicamentos e riscos mais baixos do que a monoterapia. Além disso, a alta adesão ao tratamento observada no estudo seria difícil de ser alcançada na prática clínica.
Portanto, a monoterapia com dolutegravir pode ser considerada apenas para um grupo específico de pessoas com HIV, mas mais pesquisas são necessárias para validar esses resultados e determinar sua viabilidade. As decisões de tratamento devem ser tomadas em consulta com profissionais de saúde especializados, levando em consideração as características individuais e as evidências científicas mais recentes.
REFERÊNCIAS
▶︎ WEST E et al: Sustained viral suppression with dolutegravir monotherapy over 192 weeks in patients starting combination antiretroviral therapy during primary HIV infection (EARLY-SIMPLIFIED): a randomized, controlled, multi-site, non-inferiority trial. Clinical Infectious Diseases, ciad366, online ahead of print, 20 June 2023 (open access). https://doi.org/10.1093/cid/ciad366
▶︎ BRAUN DL et al: Noninferiority of Simplified Dolutegravir Monotherapy Compared to Continued Combination Antiretroviral Therapy That Was Initiated During Primary Human Immunodeficiency Virus Infection: A Randomized, Controlled, Multisite, Open-label, Noninferiority Trial. Clinical Infectious Diseases 69: 1489–1497, 2019 (open access). https://doi.org/10.1093/cid/ciy1131
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