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Família é onde o afeto mora: um olhar ampliado para o 15 de Maio



Por João Geraldo Netto: No Dia Internacional da Família, celebrado em 15 de maio desde 1994 por iniciativa da ONU, somos convidados a refletir não apenas sobre os laços familiares tradicionais, mas sobre o que de fato constitui uma família no mundo contemporâneo. E a resposta é simples e profunda: o afeto.


Historicamente, a ideia de “família ideal” esteve atrelada ao modelo nuclear: pai, mãe e filhos. No entanto, esse conceito já não dá conta da pluralidade de arranjos familiares que compõem nossa sociedade. No Brasil, por exemplo, dados do IBGE de 2023 mostram que mais de 47% dos lares não seguem o modelo tradicional. Cresce o número de famílias monoparentais, homoafetivas, multigeracionais e reconstituídas. E isso não é sinal de fragmentação, mas de transformação social.


Famílias hoje são formadas por mães solo, avós que assumem a criação dos netos, pais e mães LGBTQIA+, tios que viram tutores, amigos que se escolhem e constroem relações de cuidado mútuo, e até pessoas que vivem juntas por afinidade, como em casas coletivas ou comunidades afetivas. A psicologia moderna, inclusive, já reconhece que a presença de vínculos estáveis e afetivos é mais determinante para o desenvolvimento emocional saudável de uma criança do que a estrutura familiar em si (Bowlby, 1988; Bronfenbrenner, 1979).


Contudo, é importante não apenas romantizar a ideia de família. Muitas famílias são também espaços de dor, violência e negação. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2023), mais de 70% dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes ocorrem dentro do ambiente doméstico. Além disso, o Brasil segue como um dos países que mais rejeitam pessoas LGBTQIA+ no seio familiar — em muitos casos, levando ao abandono, depressão e aumento do risco de suicídio.


Diante disso, o 15 de Maio deve ser também um chamado à empatia e à ação. Um dia para escutar e amparar quem precisou reconstruir seus vínculos fora da família de origem. Um dia para validar as famílias escolhidas — aquelas que se formam no afeto, no respeito e na solidariedade.


Fortalecer redes de apoio, políticas públicas e serviços sociais que acolham a diversidade familiar é urgente. Ampliar o acesso à assistência psicossocial, à saúde integral e à educação antidiscriminatória também é construir uma sociedade mais justa. Afinal, como escreveu a poeta Bruna Beber: “Família é onde o afeto mora. E mora bem.”


Hoje e todos os dias, que celebremos não o molde, mas o conteúdo. Porque o que sustenta uma família não é a forma, é o amor que cuida.

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