Instituto cria chatbot para reduzir danos do chemsex e apoiar saúde mental da comunidade LGBTQI+
- Fonte Externa
- 23 de jun.
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Em um mundo onde prazer, drogas e tabus se misturam, falar abertamente sobre o chemsex, o sexo associado ao uso de substâncias, é um desafio urgente, especialmente dentro da comunidade LGBTI+, que carrega vulnerabilidades sociais e de saúde agravadas por preconceito e falta de informação.
Para enfrentar esse cenário, o Instituto Multiverso, fundado em 2021, criou a Synô, uma inteligência artificial treinada para conversar de forma confidencial sobre temas como sexo, prevenção, redução de danos, interações entre substâncias e saúde mental.
O assistente social e gestor público Pierre Freitas, diretor e um dos fundadores do Instituto Multiverso, explica que a ideia nasceu para oferecer orientação e apoio onde muitas vezes existe vergonha de buscar ajuda. "A gente tem várias frentes: saúde, educação e direitos humanos. E uma das nossas iniciativas é a Synô, uma inteligência artificial que a gente treinou para falar com as pessoas sobre sexo, sexualidade, prevenção, redução de danos no uso de substâncias, saúde mental, sobre uma gama de assuntos", diz Pierre ao Terra.
O chemsex, ou sexo aditivado, é uma prática que envolve o consumo de substâncias como álcool, metanfetamina, ketamina ou estimulantes sexuais para prolongar ou intensificar o prazer. Embora pessoas de diferentes orientações sexuais pratiquem, no público LGBTI+, a questão é potencializada por fatores como discriminação, rejeição familiar e contextos de vulnerabilidade social. "Na população LGBT, você tem alguns agravos que contribuem para o uso da substância. Problemas de aceitação, expulsão de casa, questões religiosas... tudo isso influencia", apontou.
A metanfetamina, por exemplo, preocupa os profissionais de saúde pela rapidez com que provoca dependência e pelos riscos físicos e psicológicos associados. "Ela é um grande problema, porque vicia muito rápido, a dosagem para dar prazer e para viciar é muito baixa e, além disso, ela demora muito no organismo. A pessoa fica pelo menos 72 horas sem conseguir dormir, se alimentar direito... E isso abre margem para violência sexual, assalto, várias outras questões", detalha Pierre.
O chatbot Synô foi criado para oferecer informações diretas, sem julgamento, e ajudar a pessoa a tomar decisões mais seguras. "A gente orienta a pessoa a se apresentar, falar nome, idade, o que curte no sexo, quais substâncias usa, lícitas ou ilícitas, e aí ela tira dúvidas. Por exemplo: 'saí de rolê, estou bebendo, quero usar outra substância'. A Synô explica o efeito, a interação entre as substâncias e o que pode ser feito para diminuir os riscos", explica Pierre.
Além das orientações automáticas, a Synô cruza informações com a geolocalização para sugerir serviços de saúde próximos, como unidades de atenção para ISTs ou apoio em saúde mental. "A pessoa pode ter vergonha de falar com o médico. Com a Synô, não. E dependendo das palavras-chave, a gente já indica buscar um serviço de saúde específico", conta o fundador. Desde a criação, do chatbot, o Instituto já recebeu retornos positivos de pessoas que fizeram uso e aprenderam sobre prevenção na prática sexual e também no uso de substâncias.
Redução de danos
Segundo Pierre, a redução de danos não é sobre proibir o uso de substâncias, mas garantir que quem decide usar tenha autonomia para cuidar de si: "É dar autonomia para o indivíduo saber qual é o momento de colocar o pé no freio, fazer outros cuidados de saúde. E isso é inseparável da saúde mental, porque os impactos vão além do corpo, afetam trabalho, vida social, relações".
Apesar da inovação, o desenvolvimento da Synô esbarrou em um obstáculo conhecido: a falta de pesquisas nacionais sobre chemsex. "Grande parte das pesquisas são internacionais. O contexto cultural é diferente, mas as práticas não". O instituto contou com uma pesquisa da USP sobre interçaão medicamentosa, feita também com a intenção de ampliar os estudos sobre o tema e criar uma linha de cuidado dentro do SUS, conforme Pierre.
Por: Maria Luiza Valeriano
Fonte: Terra
* Texto adaptado
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