Por Talita Martins - Neste dia 2 de abril, o mundo celebrou o Dia de Conscientização do Autismo, uma data crucial para ampliar a compreensão e o apoio à comunidade autista. O autismo, ou Transtorno do Espectro Autista (TEA), é uma condição complexa que afeta a maneira como uma pessoa percebe o mundo e interage com os outros.
Segundo dados da OMS, o Transtorno do Espectro Autista afeta uma em cada 100 crianças em todo o mundo. Uma dessas crianças é a minha filha Alice, de 4 anos.
Gostaria muito de escrever uma mensagem em homenagem a minha pequena, que tem promovido transformações significativas na vida de todos que têm a oportunidade de conviver com ela.
Mas não há o que comemorar. Fico inquieta quando penso que o SUS não está preparado para atender as milhares de crianças autistas que precisam de suporte para o desenvolvimento. Me entristece mais ainda quando chego a conclusão de que os direitos da minha Alice e de todas as crianças autistas são negados diariamente. São crianças que muitas vezes não estão na escola porque a comunidade escolar simplesmente nega a presença de um acompanhante terapêutico em sala de aula. Escola essa que deveria estar de portas abertas para atender todos os tipos de diversidade.
Sem falar nas pessoas sem noção que olham para o seu filho dizem: 'nossa, é tão bonito, nem parece autista.' Elas acreditam que estão fazendo um elogio.
Há ainda as pessoas que decidem não conviver com a pessoa autista e usam a justificativa de que não são capazes de lidar com as diversas crises.
Existe ainda uma briga incansável com os convênios médicos, que não entenderam que cada autista é único e que não há uma receita de bolo no suporte diário. Eles insistem em limitar o acesso as terapias...
Sem falar no capacitismo e nos professores e médicos que tentam desmobilizar a luta diária das famílias. Já ouvi na escola: "mamãe, deixa a sua filha voar, o desconforto dela na escola pode estar ligado à sua superproteção." No entanto, essa mesma equipe me liga pelo menos quatro vezes ao dia para relatar 'crises' da pequena o ambiente escolar.
Sempre me perguntam qual é o grau de suporte da Alice. Pasmem, eu não tenho resposta. O último neuropediatra me disse que só será possível definir depois de uma avaliação neuropsicológica específica, que custa mais de 10 mil reais.
Sem dúvidas, as limitações e dificuldades trazidas pelo autismo da minha pequena são grandes obstáculos a serem enfrentados. Mas meu cansaço maior tem outra origem. O que me leva à exaustão física e emocional tem relação com o preconceito e o despreparo das pessoas no acolhimento de autistas.
Ainda bem que a Alice é cercada de amor e de pessoas que se importam com o desenvolvimento dela. Ainda bem que temos uma rede de apoio que se mobiliza o tempo inteiro para que a nossa pequena cresça com qualidade de vida.
A diversidade é a essência da humanidade. Sonho que tenhamos em um futuro próximo um mundo onde todos os indivíduos, independentemente de sua neurodiversidade, sintam-se valorizados e respeitados.
A pessoa autista é autista todos os dias, então o Dia de Conscientização do Autismo e a luta pela inclusão de pessoas neurodiversas é diária.
Um brinde a sua vida Alice, espero no próximo ano ser mais otimista.
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