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Entre o controle e o desejo, João Geraldo Netto revisita a história da sexualidade em Congressos no Rio de Janeiro



Com uma trajetória marcada pelo ativismo, pela produção de conteúdo e pela inovação digital no campo da saúde, João Geraldo Netto — criador do canal Super Indetectável e cofundador do Instituto Multiverso — foi um dos destaques da programação do XV Congresso da Sociedade Brasileira de Doenças Sexualmente Transmissíveis, XI Congresso Brasileiro de Aids e VI Congresso Latino-Americano de IST/HIV/Aids. Em sua palestra intitulada “História da Sexualidade: Controle, Resistência e Prazer ao Longo do Tempo”, ele ofereceu um panorama instigante e afetuoso sobre como o sexo foi, ao longo da história, manipulado, reprimido — e também reivindicado como território de direitos e liberdade.


Logo no início, João lembrou que discutir sexualidade vai muito além do ato sexual: trata-se de pensar identidades, culturas, afetos e políticas públicas. “ISTs sempre foram atravessadas por normas morais e controles sociais”, destacou, apontando a urgência de abordagens éticas, integradas e não punitivas.


Uma viagem no tempo: da fertilidade ao estigma


A palestra percorreu diferentes épocas históricas. Na Antiguidade, o sexo estava integrado à espiritualidade e ao cotidiano. Com a ascensão do cristianismo, porém, o corpo passou a ser visto como território do pecado, instaurando a culpa sexual como norma. Já no século XIX, o discurso médico se aliou ao moralismo burguês para classificar desejos e práticas como normais ou desviantes — consolidando a patologização das sexualidades dissidentes.


João também destacou os impactos do colonialismo, que impôs valores sexuais europeus a povos originários e africanos, e como as ISTs foram instrumentalizadas para justificar políticas racistas.


Entre libertações e retrocessos


O ativista resgatou as revoluções sexuais das décadas de 1960 e 1970, a força do feminismo, das lutas LGBTI+ e o impacto da epidemia de HIV/aids nos anos 1980 — período em que corpos dissidentes passaram a ser alvos de um novo ciclo de estigmatização. “A resposta da sociedade civil foi o cuidado coletivo, o ativismo e o autocuidado”, lembrou.


Na atualidade, João abordou os desafios da sexualidade em tempos digitais: censuras nas redes, chemsex, PrEP, pornografia, discursos antagônicos e a urgência de uma educação sexual plural e não moralista.


Tecnologia como aliada


Encerrando com uma provocação sobre o futuro, João apresentou a chatbot Synô Milía, primeira inteligência artificial em português voltada para HIV/aids, chemsex e autocuidado, criada para promover informação, acolhimento e autonomia.


Com sua combinação de afeto, crítica histórica e inovação, a palestra de João Geraldo foi um convite à reflexão: “Que história queremos escrever sobre a sexualidade?”. A resposta, para ele, deve sempre passar pelo desejo, pela dignidade e pela luta coletiva.


Também participaram da mesa coordenada por Mauro Cunha Ramos, Daniel Pinheiro Hernandez, com “A abordagem histórica das IST, com foco em sua evolução e impacto social”, e Sérgio Carrara, com “Tributo à Vênus”.


 
 
 

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