O roupão do João e o clima que veste injustiças
- Fabi Mesquita Guarani
- 9 de jun.
- 2 min de leitura

Por Fabi Mesquita Guarani: Sim, Goiânia amanheceu fria (14º graus). Muito fria para os goianos. Fria de coberta, de café com bafo e de roupão. João apareceu assim, felpudo, teatral, sorriso de Monalisa— mas, quem diria, também profético.
Porque, sejamos sinceres: que raios de frio é esse no cerrado? Goiânia, que há anos se gaba do sol a pino, agora treme com um ventinho seco e disfarçadamente climático. Mas esse frio não é só uma mudança de estação. É aviso.
O roupão do João tem tudo a ver com a crise climática. Com o desajuste atmosférico que embaralha as estações, com as chuvas que não vêm quando precisam, com o calor que passa dos 40 em abril e o frio que congela em maio.
Só que a gente sabe — a mudança climática tem cor, tem CEP e tem corpo. E quem sente primeiro e mais forte não são os donos de carro elétrico e quintal arborizado. São os nossos.
São as pessoas negras, periféricas, indígenas, LGBTQIA+, que vivem em bairros com menos árvores e mais concreto, que não têm ar condicionado, que enfrentam enchente sem rodízio de Uber, que perdem a casa com o deslizamento da vez. E depois ainda ouvem que o problema é “natural”.
Enquanto a camada de ozônio se rasga, a desigualdade se costura com linha grossa: justiça ambiental é também justiça social. Porque proteger o planeta não é salvar a baleia em alto-mar e esquecer o barraco no córrego.
O Multiverso veste esse roupão com João — porque sabe que não tem como falar de clima sem falar de gente. Porque cada gota de suor e cada tremedeira de frio nos corpos mais vulnerabilizados são também dados. São provas. E são, acima de tudo, chamados à ação.
Então sim, o roupão do João é fashion, é afeto e é manifesto.
Porque se o clima tá mudando, a gente também precisa mudar — e juntes.
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